Fragmentos 37 [correnteza]

...às vezes,

sei lá,

vejo o futuro

e não gosto do que vejo.

Sinto desânimo no cortejo,

calafrios com poucos ventos,

sinto abafado

por fora e por dentro.

Às vezes,

quiçá,

tudo pára de fazer sentido

a roda pára de girar,

o universo torna-se finito

enquanto meu lar,

cama e música,

não possuem nem cadência,

nem ritmo.

A maior falta de sentido,

esse futuro meio que definido,

desagradável,

frio e meio sombrio,

se esvai no sono,

quando boto as barbas de molho,

deixo de me fazer levar...

Por vezes madrugada dispersa,

na música,

essa angústia aparentemente insanável,

insana de fato,

que me leva pelo curvo derradeiro abismo do assunto,

abismo absurdo,

futuro sem rumo.

O que me leva por essas bandas

e me faz lembrar das vezes na varanda,

com a lua e o olhar,

nem sei ao certo...

Decerto,

tudo isso parece deserto,

quente na alvorada,

frio no poente.

E o que me leva,

vida,

por certo,

é mais do que deserto,

é mais que incerto,

nas curvas desse desânimo,

no âmago da existência,

que me valha -

nem navalha, nem fio -

é o que nos espera na incerteza.

É assim que a caminhada se faz beleza,

que o futuro se desvanece na correnteza.

É vida-correnteza,

feiúra transbordante de beleza.