Saudades do poeta

Quando o poeta retirou-se

houve um silêncio sem leitura.

A lua atrás da nuvem socorreu-se,

quase invisível aos olhos da terra.

Os meninos da rua somente brincaram.

Houve quem disse que a brincadeira era quase sem beleza,

pois o poeta não estava para emprestar-lhes a leveza da infância.

A rosa, pobre coitada, viu a chuva cair e tomar sua face

de forma tão bela que tanta gente passou e nem reparou.

Sentiu falta de seu amigo poeta que nada lhe escreveu.

As nuvens viraram fumaça pura e simples

e divagaram de um lado para outro sem que nenhuma

beleza lhe fosse atribuída.

A moça debruçada na janela ficou até mais tarde

esperando o poeta que nunca passou e da sua algibeira

nenhum verso tirou.

Enfim, quando o poeta sumiu o mundo entristeceu,

posto que a beleza da vida e do mundo não está em si

mas no olhar inspirado do poeta que a vê.