Gritos na noite
Gritos na noite
Meus ouvidos estão roucos de te ouvir gritar.
Gritos arrebentando no meio da cara da noite silenciosa.
Não sei bem porque gritas, mas procuro te entender me calando.
Gritos permeiam os dias: são silêncios presos que se querem soltar.
Resgato de minha memória um urubu pulando entre carcaças destroçadas.
Também gritava muito, aquele urubu. Talvez a minha presença o incomodasse.
Nunca entendi bem por que o urubu gritava – por isso me redimo traduzindo teus gritos.
Enquanto transformas teus medos em gritos, embuço-me num lençol de silêncio.
E a noite prossegue com seus muitos gritos que ninguém pode traduzir.
Vale do Paraíba, noite da primeira Sexta-Feira de Janeiro de 2010
João Bosco