Gritos na noite

Gritos na noite

Meus ouvidos estão roucos de te ouvir gritar.

Gritos arrebentando no meio da cara da noite silenciosa.

Não sei bem porque gritas, mas procuro te entender me calando.

Gritos permeiam os dias: são silêncios presos que se querem soltar.

Resgato de minha memória um urubu pulando entre carcaças destroçadas.

Também gritava muito, aquele urubu. Talvez a minha presença o incomodasse.

Nunca entendi bem por que o urubu gritava – por isso me redimo traduzindo teus gritos.

Enquanto transformas teus medos em gritos, embuço-me num lençol de silêncio.

E a noite prossegue com seus muitos gritos que ninguém pode traduzir.

Vale do Paraíba, noite da primeira Sexta-Feira de Janeiro de 2010

João Bosco

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 02/01/2010
Reeditado em 03/01/2010
Código do texto: T2006632
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.