Metamorfoseando Sempre

O que penso, o que digo,

O que acredito,

O que prego, o que escrevo,

O que canto,

É o que, no momento, em mim,

Está em alto relevo.

No entanto,

Isso sou eu, atualmente.

Não quer dizer que assim seguirei até o fim.

Revejo meus conceitos, periodicamente.

Já mudei muito, muito mesmo.

Já fui burguês, completamente inserido no capitalismo...

Era tesoureiro da agência central de um grande banco.

Eu tenho que confessar que gostava daquela loucura,

A ponto de fazer parte da sua estrutura,

Para o meu próprio espanto...

Não ouso considerar esse período como um erro,

Mas não contribuiu muito para o meu lirismo...

Está certo que, paralelamente, eu seguia fazendo teatro,

Germinando meu desacato.

Posteriormente comecei a cantar

E a namorar o sonho de voar.

Por isso consegui emergir da ilusão bancária,

Assim que senti na pele, como ela é arbitrária.

Hoje, sou um caiçara assumido,

Um poeta ensandecido.

Fui de um extremo a outro.

Isso se lê no meu rosto.

A vida que tenho agora,

Consagra-se à simplicidade,

À percepção

E a sensibilidade,

Lá atrás, me pareceria uma devastação.

Eu enlouqueceria sem demora.

Como é que eu iria imaginar

Que seria possível viver sem carro?

Numa cidade de 30000 habitantes,

Que só tem um semáforo e, ainda por cima, relutante...

Vivia em academias, tinha a pretensão de atleta.

Hoje tiro o mato do quintal, limpo a casa e ando de bicicleta:

Minha companheira insuperável,

Indispensável.

Tenho menos de um terço da renda que tinha.

Nunca mais fui a um grande shopping passear.

Se pegar um grande trânsito, não sei mais atravessar...

Moro numa rua de terra.

Minha casa é de frente pra serra,

A três quadras da praia,

Onde minha alma se espraia...

Acho que não aguento mais o som alto das boates.

Prefiro o acolhimento das tardes.

Sinto a vida, plenamente minha!

Calça, só em ocasiões indispensáveis,

Aquelas do tipo inegociáveis.

Vivo de bermuda, de chinelo,

Num conforto sem paralelo.

Ternos, gravatas, sapatos... tão distantes,

Quanto desimportantes...

Lamento ter perdido tanto tempo,

Com o capitalista argumento.

Em matéria de crenças,

Alterei radicalmente minhas sentenças.

Troquei tudo que me ensinaram,

Tudo que enganaram

E que, quase, me derrotou,

Pelo que fui descobrindo,

Tateando, intuindo

E que a arte apontou.

A metamorfose é constante

E não obstante,

Coerente,

Apenas o suficiente,

Para me manter consistente,

Vivo,

Atrevido

E poeticamente eloquente.

Claudio Poeta
Enviado por Claudio Poeta em 21/12/2009
Código do texto: T1988617