O que não serve

*O que não serve

Poder-se-á ser

o mais potente dos canhões;

mas sem a fortaleza

ser-se-á o mais vulnerável.

Ser-se-á um nó frouxo

na embarcação avante,

um riso desdentado e mudo

defronte o presente,

a menstruação depois dos vinte.

É nosso todo gosto sentido

numa mesa sem prato,

é nossa toda chuva de areia,

todo pó flutuante acima do verde,

é nossa toda cor negra num véu

e vestido de noiva no cemitério.

É pouco qualquer livro de biblioteca,

qualquer zumbido do silêncio na guerra,

qualquer cheiro de fruta no mar.

Não basta o susto de quem queria tê-lo,

não basta a arca de Noé,

não basta.

Mais se quer de uma joaninha perdida no mato,

mais se quer de um beijo no cinema ao lado dos pais,

mais se quer de um ingresso de show aos 10 anos.

Mais se quer de quem mal ama,

tentando bem amar.

Bugarim