Muda poesia
Não tenho mais versos.
Ficou só o inverso, o reverso,
ficou a prosa muda.
Cala o pensamento,
estancam as palavras,
fica a idéia surda.
Corta-se o verbo,
amputa-se o artigo,
sintaxe absurda.
Mata-se o poema,
morre a poesia,
não há mais quem acuda.
Volta-se à prosa,
à fala discursiva,
à precisão aguda.
Se a prosa se põe sóbria,
a poesia, ébria,
embriaga a quem a urda.
Poesia despe o espírito.
A prosa, caridosa,
cobre a alma desnuda.