Fuga para Marte
— Olá, amigo! O que fazes aqui em Marte?
— Venho da Terra, cansei-me de lá viver.
— Por que deixas um lugar conhecido por ser
Rico e repleto de belezas por toda parte?
Não consigo te entender!
— É muitos simples. Nossa espécie se considera
Superior, a mais inteligente, a mais sublime;
Vivemos cercados pela modernidade, onde impera
A lei do menor esforço, a preguiça; o cardume
De máquinas nos faz seres alienados; a mídia
Então, nem se fala! O Vale tudo do consumismo
Contamina-nos do nascimento à morte; uma perfídia
Que oculta os valores sociais e a ética; cria modismos
Exacerbados capazes de destruir todos nossos padrões culturais.
Vivemos em uma sociedade puramente individualista;
Somos capazes de morar dez anos no mesmo lugar
E cruzarmos diariamente com as pessoas sem as cumprimentar;
Julgamos as pessoas por suas posses, influência capitalista.
A família, enquanto Instituição, está cada vez mais esfacelada;
Nossos jovens crescem sem um horizonte, sem um ideal
De vida, sem perspectivas, não crêem na política, isso é mal!
Mata-se uma pessoa como se a vida tivesse o valor de um “nada”.
— Você não acha que são razões suficientes para fugir?
— E tem mais! Tanta inteligência, tanta supremacia
Só nos conduzirá ao vazio, ao planeta sem água,
Sem recursos, à beira do inóspito. Para que tanta sabedoria,
Se não aprendemos ainda a enxergar “o outro”, sem mágoa,
Sem ressentimentos, sem vingança, sem ódio?
Há muito tempo deixamos de ser “homo sapiens”
E nos tornamos “homo demens”.