AUTO - ACUSAÇÃO
Ainda há quem se compadeça de corações malogrados.
Talvez muitos se esqueçam que, por grande parte de nossos males,
Somos quase sempre os únicos culpados.
Somos instrumentos de pesca, caça e penhor.
Servimos de isca para falsas promessas,
Somos barganhados a preço de restos de amor.
Felizes são os loucos que souberam eternizar o consolo dos ébrios.
O efeito passageiro do álcool é, para um insano,
Estado constante do cérebro.
Nós, contudo, que estamos em posse total da consciência,
Não podemos nos deixar persuadir pelas boas almas que
Vivem a atestar nossa inocência.
Se alguém invadiu a santa morada dos teus sentimentos,
Chame-lhe covarde por ter desonrado tua confiança,
Mas aceite que ele só permaneceu em ti com teu consentimento.
Preferimos ser considerados tolos; “ai, que pobre vítima eu sou”!
Assim recebemos o amparo de todos,
Conquistamos cúmplices para maldizer quem nos magoou.
Eu, ao contrário, desejo assumir minha culpa e declarar meu perdão.
Confesso ter fingido acreditar em histórias absurdas,
Sei que jamais fui a mocinha e que nunca houve vilão.