...LEMBRANÇAS

Se os olhos se fechassem agora...

Se os nervos enrijecessem nesse momento e relaxassem para a eternidade

Se a lágrima rolasse pela última vez

E os lábios entreabertos dessem saudações à "Ela"

Aquela que possuímos a certeza de que um dia chegará para tomar o último chá conosco

Como a última visita do dia

Se a voz não mais soasse, e os sentidos fossem ao encontro de...

...NADA

Talvez pudesse ver...

As lágrimas verdadeiras e beber as falsas como o drink da vida

Que não passou de momentos utópicos

Se o movimento não fosse alcançado e pudesse ver

O sofrimento dos que não encenavam

As últimas flores, estas totalmente desnecessárias

O banho de dor e a chuva de desespero

Talvez pudesse tocar...

E sussurrar que a matéria se foi, mas que as lembranças ficariam

Sempre na caixinha de "Achados e Perdidos" da alma

Eu seria a "Perdida" que foi jogada no meio do caminho

Porque na realidade não era daqui

Pois nunca soube conviver com o mutável... o finito

O coração que agora paralisado adormece o sono eterno

Sempre ficou rasgado, nunca foi inteiro

Porque nunca aceitou que:

Momentos são momentos

Que ser humano é ser humano

E que ele estava numa caixa vulnerável e mesquinha

De um ser que não merecia suas batidas, e seu trabalho de bombear o sangue que era alimento de outros

Talvez pudesse assistir...

A "Máquina" funcionar mais uma vez

As notas rolarem para bolsos famintos

Os doentes da alma, que agora ferida, choram em luto

Usariam as notas com ela pela última vez

A transparência e sinceridade

Bem como todo o resto que compunha o não palpável do ser

Voa agora...

A essência foi diluída e o último cálice será derramado

O FIM

O bem e o mal, que podem existir

OU NÃO

A descida... as lembranças

E o que fica depois... somente lembranças

A imagem será perdida e o vulto trará sorrisos e lágrimas

Mas o que sobrará serão somente lembranças

O tempo embaçará os traços

A mente esquecerá os detalhes

O ouvido e outros sons apagarão o tom da voz

Que ora suave, ora metálica

Pronunciava lamúrias ou declarações intermináveis de sentimentos

Porque no fim sabia que só restariam lembranças

E para alguns nem lembranças restará

Será menor que um traço na pintura abstrata

Mas à essa altura nada disso importará

A presença ou a ausência de lembranças

Porque a matéria terá desaparecido, e o espírito...

A alma estará no lugar que todo mortal deseja conhecer ainda em vida

Para alimentar o sentido da mesma

Mas só conhecerá quando não mais alimentar sentido algum

Porque no fim... nem chuva nem sol

Nem o mar e o infinito

Nem montanhas e céu rosa e alaranjado

Nem flores de plástico ou não

Nem perfume ou podridão

Nem beijos ou bofetadas com os membros ou com as palavras

Nem escarro ou carícia

Nem arma ou chocolate

Nem pássaro ou borboleta

NADA disso terá sentido no campo do ser ou saber

Do tocar e sentir

Do pensar e buscar

Pois no FIM a essência será apenas mais uma Lembrança