PELAS RUAS DA CIDADE

Vejo sombras nas calçadas,
Desejos de liberdade,
Insatisfações permutadas,
Sonhos pela metade.

Vejo um manifesto a piche no muro,
Muros por todos os lados,
Um pedaço de pão duro,
Desumanamente compartilhado.

Vejo um louco - lúcido - lúdico,
Se banhado no chafariz,
Exibindo a nudez em público,
Cantando “pro dia nascer feliz”.

Vejo senhoras e senhores,
Assentados na praça com os rostos nas mãos,
Divagando, inventando mil cores,
Para enganarem a solidão.

Vejo carros indo e vindo,
Queimando pneus no asfalto quente,
Folhas secas caindo,
Das arvores urbanas – resistentes.

Vejo atos sangrarem a vida,
Sem qualquer remorso,
Em tantas almas perdidas,
Insuperáveis destroços.

Vejo pelas ruas da cidade,
Segredos - desenredos - danos,
O tempo contemplar com impassibilidade,
O inquieto destino de sermos humanos.

Vejo um lindo olhar - surpreendente,
No complexo da multidão,
O abrir de um sorriso macio - inocente,
Um pingo de gente na minha direção.

E me vejo completamente desarmado,
Dominado pela presença da fantasia,
Os dias; apesar de áridos - complicados,
Oferecem momentos plenos de poesia.