Eu, o rio, as paixões e o mar

Ó, querido e amigo rio!

Nas tuas águas deságuam o meu clamor

Nos teus movimentos,

Nos teus sussurros vou deixando aquele amor

Amor maldito, amor infinito... mas apesar de tudo, amor

Ó, querido e amigo rio!

Lava-me alma, transborda sua calma enfim

Enxuga o meu rosto

E mata de desgosto quem se afastou de mim

Ó, querido e amigo rio!

Das suas águas recrio o meu espelho,

Navego em silêncio a busca do mar...

Mar imponente, mar de gente, amar inocente

Mas, também capaz de matar

Ó, querido e amigo rio!

Me deixas ser tu por um instante,

Me deixas ser gigante,

Não quero ser como antes...

Por conseguinte só quero correr pro mar

Amigo rio que desvirgina as matas

Que desce manso ou em cascatas

Perdoai minhas lamentações

Rio de faces ocultas,

Barrento, límpido de água imunda

Mas que apesar de tudo de limpar corações

A ti ó rio declamo meu carinho

Pois um dia também fui menino,

Banhei-me no teu leito sem espinhos

E mergulhei nas profundezas das paixões

Nelson Rodrigues de Barros
Enviado por Nelson Rodrigues de Barros em 04/11/2009
Reeditado em 04/11/2009
Código do texto: T1904294