Vendaval

Dez da noite!

Tudo tão calmo, que levanta suspeita.

O corpo, na cama, não se ajeita.

Os filhos todos dentro de casa,

Em busca de minhas asas.

Um silêncio absoluto,

Como se algo tivesse calado o mundo.

De repente, ele chegou com seu açoite.

Um vento enfurecido virou vendaval.

Agitou o mangue de forma descomunal.

Levantou o mar,

Curvou a serra,

Como quem quer desgarrar a terra.

Tirou quase tudo do lugar.

Veio com sua aterrorizante sinfonia:

Explosão absurda de energia,

Espalhando medo, onde nunca houve respeito.

Impondo respeito, onde sempre houve medo.

Magia visível,

Propícia a quem está sensível.

Excelente oportunidade para faxinar

A mente e as emoções,

Para esquadrinhar inéditas sensações.

Bastando, para tanto, respirar

E se concentrar

No poder do ar.

Janelas rangendo,

Portas batendo,

Árvores executando coreografias inusitadas,

Como se tivessem sido militarmente arregimentadas.

Tudo se rendeu ao fenômeno que acontecia,

Enquanto eu, a um só tempo,

Preocupava-me e agradecia.

Sempre tive admiração e respeito pelo vento.

Morando afastado da cidade,

Desenvolvi certa intimidade,

Com as suas formas de se fazer presente,

De passar por entre...

Acredito no poder adstringente,

De seu discurso eloquente.

A tudo ele altera quando passa,

O ambiente desembaça.

Levou-me a questionamentos,

Deportou os ressentimentos,

Adequou os posicionamentos,

Lavou-me os sentimentos.

Claudio Poeta
Enviado por Claudio Poeta em 31/10/2009
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