Lábios num abutre

Eis no topo dessa árvore morta

Um abutre a me fitar.

Eu veria um sorriso em seus lábios.

Se ele os tivesse.

Ou será que começo a imaginá-lo...

Imaginar os lábios, pois o abutre aqui está.

Estranho ficar feliz nessa situação:

Estirado sobre o chão árido;

Estirado sob uma árvore e sob esse Sol;

Estirado ao lado de meu orgulho

Que jaz aqui, lamentando seu egocentrismo;

Estirado ao lado da minha esperaça

Que jaz aqui, prestes a dar seu último suspiro;

E o espectador de minhas tres facetas

É esta ave que será talvez meu bom carrasco

Ou quem sabe apenas aprecie meu declínio

Para saborear minha carne que cheira a agonia.

Sinceramente não sei qual das opções mais me alegra.

Pois a que mais me entristece é essa mesmice

De hora confiar na esperança do bem vindouro

E cegar-me com o orgulho de quem não desiste

Ou outrora esconder meu orgulho

E suprimir a esperança de ser feliz.

Dois extremos afastados,

Dois irmãos mais que grudados.

Depende de como se olha,

Depende de como se termina.

Dependência de depender...

E de todo esse processo retroceder...

E o Sol começa a me sorrir,

Eis outro devaneio.

E novamente vejo lábios num abutre.

Eis que serro meus olhos.

“-Vai-te daqui abutre,

Arda sozinha árvore,

Assombre-se Sol.

Pois munido não sei se,

De meu orgulho onipotente

Ou de minha esperança inconsciente,

Eu novamente me levanto.

Não será aqui, hoje, agora

Que findarei essa vida.”

E assim saí reforçado com minhas facetas

E mais uma delas:

As mentiras que eu me conto

E que minto acreditar...

Wyllian Neo Dalla Valle
Enviado por Wyllian Neo Dalla Valle em 19/10/2009
Reeditado em 06/11/2009
Código do texto: T1875954
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