POÇÃO DE AMOR

I

 
Caçar palavras perseguindo
o Bolero intraduzível de Maurice,
quantos bons meninos
escondem punhais facínoras?
 
nos diversos palcos, sigo passos
assobios e com
passos
...percorro rios no meio do drama
caio levanto ressuscito
construo um equilíbrio
nas asas do imaginário
com exclusividade de ave livre
 
mormaço em teto de zinco
palavras são sopradas quentes
para quem quiser quebrar
nossos ossos
numa chuva clássica de pedradas
ácidas

resgata-se na partitura circular
pores de sóis que se repetem
na memória
 
no engolir da náusea
nos braços das ilusões
no túmulo da linguagem
d’alguma outra lenda
me refaço ramo visceral
com duas faces e uma lâmina oculta
corto raízes que não são firmes
 
invejo os ouvidos das paredes
nas mãos da indiferença
adormeço com olhos sempre-abertos
sangro na explosão de ironias

II
 
Alguns desejam matar a poesia...
periférica  imatura
e até a mais robusta
e se dizem poetas
sem enxergar nas veias
o tamanho do amor no mundo
assinalando uma porção do desamor
mergulham a dor no espelho
naufragando mais e mais

e
quando a pena
não apaga o desespero
:
tenho o maior dó.
 
Rosangela_Aliberti

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