Lembro…(não) sei
Lembro-me o que ainda faço no trilho
das malhas e conheço nas pedras as letras do meu rio
Não é só o que me lembro.
Lembro-me das pessoas que falam junto à minha pele
no velório dos dias que passam e depois muitas_ já não as lembro
lembro a cor d’ água como a do vinho
mas não me lembro se alguma vez agarrei uma cor.
Lembro-me que o cérebro não é um ninho ao sol
é o chapéu que protege a minha geração
e não sei para que serve o cabelo
palhas que nascem, crescem e voam livres de ideias.
Mas sei que devo comer a polpa e não os buracos do queijo
e, quando quero encontrar o sabor do beijo regurgito-o do coração.
sei porque morre o milho no pão
e quase me esquece os olhos da espiga
mas não esqueço os da minha mãe.
Também sei que me lembro de tudo o que aprendi
e até o de hoje acresce em mim
mas não me lembro se de noite vivi
e nem sempre acordo o que de noite não vi.
Não sei quanta lã de ovelhas precisa
O calor do sol
nem sei quantas pedras precisa o meu rio
só sei que das malhas apanho as letras do meu trilho.
Ana Mª Costa