Cinco Vezes
Continuarei de um ponto.
Estarei pendurado na cruz,
Estarei às visceras,
Estarei naquele ponto
Por uma esperança de sol,
Uma manhã de sol.
Cinco vezes, caminhei a ti,
Meu sol de papel.
Meu deus de machê.
Faz-me esconder esta ferida aberta,
Poupa-me de cicatrizar.
Quero deixar sangrar
Até formar um rio
E quando a água subir ao céu,
Apagar-te.
Continuarei de um sorriso.
Vou abraçar esta fumaça,
Vou segurar esta sombra,
Vou confessar meus pedidos
Para uma estrela abandonada,
Meu pudor cadente.
Por vezes, o movimento das nuvens
Comoveu-me.`
É o movimentar dos cometas,
É o sopro de Deus,
Que me leva nos sonhos;
Somente Ele os escuta,
Ele e o sol.
Meu sol chamuscado,
Que eu apaguei com o dedo,
Que eu sujei com sangue.
Olha para mim com esperança,
Vê um futuro melhor,
Vê um sorriso no canto da foto,
Que eu continuarei nas páginas
Desta carta amarelada
Feita para ti.
Continuarei de um ponto,
Continuarei de uma lágrima,
Que já estava pronta quando nasci.
Estarei num túmulo,
Cantando meu epitáfio,
Cantando a música da morte,
Cantando para o sol.
Ele me escondeu da noite,
Ele falhou em sua missão,
Ele abriu uma frecha
Para eu correr para ti
E trair.
Continuarei deste ponto
Com as luzes apagadas,
Com as mãos queimadas,
Com as pernas feridas.
Eu roubei as estrelas,
Eu cobri o céu com um lençol,
Eu amarrei o sol num poema
E o apaguei num copo d'agua.
Apaguei o sorriso da foto,
Apaguei a lágrima que estava para correr,
Apaguei você.
Continuarei daqui.
Sentarei para esperar o sol.
Cinco vezes, caminhei a ele;
Cinco vezes, traí o caminho dos planetas;
Cinco vezes, apaguei uma verdade,
Para desenhar uma mentira em seguida.