Por Que Sou Poeta

Esperei muitos anos, para me dizer poeta.

Talvez, em criança, não soubesse de tanta seriedade.

Não me parecia tão simples como ser atleta,

jogador de bola ou qualquer coisa assim: um frade,

frei, padre ou, até mesmo um coroinha.

Naquele tempo a religiosidade andava perto,

talvez por conta das carolices da madrinha,

que vivia atrás da gente, para levar à missa,

todo santo domingo, se a gente deixasse.

Enfim, ser poeta não era simples, para mim…

nunca vira alguém dizer: “poeta é profissão”,

ao contrário, parecia coisa de desocupado,

mais ou menos como querer tocar violão.

“Coisa de desocupado!” A voz forte de meu pai

ecoava em meus ouvidos infantis e atentos.

Fazer o quê?

Deu no que deu…

Por meu pai, não me tornei desocupado,

carrego de todo trabalhador o triste fardo

da irrealização mal paga, mas registrada.

Por minha madrinha, mantive a fé inabalada,

que tão presente, a cada dia, nos afeta.

Agora, por minha mãe, de quem não comento,

doce, gentil e intensa em cada sentimento,

por ela, sim, acabei me tornando poeta.