NOITE CHUVOSA
Sopra infrene e grosseiro o vento na minha janela,
Pelas frestas o frio adentra, exteriorizar-se o arrepio,
Zunindo dissolutas frases, minha imaginação anela.
Rompendo a barreira do som com seu fino assovio.
Aguça minha vontade a chuva que toca o telhado,
Em melodiosos passos como quem caminha sutil.
Quisera atear meus nós em teu ombro encorpado,
Nesses tempos de um setembro pouco primaveril!
Incumbido de talhar um clima romântico silente,
Num poente acanhado o sol se debruça abstruso.
Como que envergonhado atrás da nuvem fluente,
Astro febril e ardente, descompensado em desuso.
Gotejante e lacrimoso o céu permanece sombrio,
Nem estrelas, nem lua, só a escuridão infinita.
O que de mal há? Pergunto-me enquanto sorrio.
Se mesmo fria e chuvosa, ó noite és tão bonita!