O ANJO...
Na mesa, pousa uma Nuvem que se abre.
Silencioso, cuido em firmar minha atenção.
Em meio a violinos, um anjo me fala de Amor.
Se estou entre os vivos ou num vale enfermo,
Se meu espírito passeia por Sodoma,
O Relógio da verdade apenas bate pálpebras, cansado.
Será o túmulo de meus delírios?
Será que brinco em primaveras de lama?
Será que habito lembranças dos Indiferentes?
É tarde da noite, estou só. Ouço alguém assobiando Vivaldi,
Com pés de bode, metamorfoseado, o anjo urra, me enfitando:
- Sou Fausto, hóspede da Morte, mascando a vida!
Acendo velas de cristal, diviso o Príncipe das Trevas.
Ao som de ventos impetuosos, o mistério se desfaz.
Ao fundo, um velho espelho reflete a imagem do Mestre.