Fogo, palha e lenha
O completo dar-se do fogo, chama,
dá-se de repente quando se inflama
a ave-faísca na superfície de
algo que lhe dê o que precise
pra ser completo o romance-chama
Do dar-se intenso que precede a trama
aparece a palha, figura nítida
com seus traços que envolvem tudo
lembrando calor até na cor e textura
fazendo da brasa seu brinquedo ativo
e logo tudo se projeta
na imagem mais nítida do incêndio
envolvendo os arredores, arrasando
tudo que por ele for tocado,
ferindo a rigidez em que dorme a lenha
e, como tudo que é efêmero passa,
morre a intensidade que parecia eterna.
Da palha só nos resta a cinza
e do fogo apenas a tentativa de
reacender-se pra, por fim, extinguir-se
Quando de repente, a brasa extenuada
passa a sentir uma força que a acolhe
-ou talvez seja fruto de sua grande busca-
mas não tão brusca quanto a palha
em sua fúria tida como dançante
mas gradativa, abrindo espaços
que pareciam inacessíveis, incendiando-se
por dentro aos poucos, reanimando,
de dentro pra fora, o calor extinto
até que, subitamente, ele desaflora
agora mais forte do que fora no início.
E de repente tudo fica claro:
Não importa quão intenso seja o fogo de palha
ele não se compara à estabilidade
do calor da lenha...