É preciso saber dizer “adeus...”
Ele ia à frente, ela um pouco atrás...
Ele abriu a porta e saiu. Não se virou.
Antes de entrar no carro, olho-a mais uma vez.
Que olhar longo...
Passaram-se horas em sessenta segundos...
Ela sorriu. Passou a chave na porta.
Era a última vez, ela sabia,
Embora em momento algum ele dissesse...
São estes “sextos sentidos” que algumas mulheres têm...
Silenciosamente desligou no som a música antiga
Que embalara todos os seus encontros.
Encostou-se na parede: nunca se sentira tão só...
Estava em paz, apesar da enorme tristeza...
Escreverem-se alguns e-mails gentis,
Algumas mensagens com classe...
Falaram algumas vezes ao telefone...
A voz dele era como o som afinado
De um grande carrilhão... E, ao mesmo tempo,
A sonoridade do cristal...
Ele jamais a viu chorar...
Ela não se permitiria usar este sinal de tristeza
Para despertar-lhe pena ou fazê-lo vacilar...
Rompeu-se o ciclo da vida. O mais belo...
Lágrimas rolavam em turbilhão
Mas ela as escondia todas
Sob um sorriso carinhoso e encantador...
Nunca mais falou nele.
Vestia-se com esmero, como de costume.
Não interrompeu suas atividades,
Não mudou seu humor...
Mas foi secando por dentro
Como seca uma flor abandonada...
Evitava qualquer possibilidade de encontro.
Soube dizer o “adeus” e fazer-se “adeus...”
Um dia, muito tempo depois,
Sentiu-se mal.
Foi até a cozinha e, com uma faca afiada,
Cortou a palma da mão
E, caída ao chão,
Escreveu o nome dele com sangue...
E, retirando do pescoço uma antiga jóia
Com ônix engastado em ouro
Com a letra do nome dele gravado
E que dentro tinha a foto dos dois,
Colocou-o ao lado do nome,
Escrito com sangue...
Não pediu socorro a ninguém,
E, sorrindo, como tendo visto um Anjo,
Elevou sua alma ao Céu...
Naquele momento, em seu estéril jardim,
Nasceu uma flor...
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Nota da autora: este conto é baseado em uma história verídica, acontecida em minha cidade, Bagé/RS, há muito tempo. A personagem foi professora de piano de minha mãe. Na lajota da cozinha, onde ela escreveu o nome dele, ele mandou arrancar e fazer um quadro que colocou em seu quarto. Alguns amigos chegaram a ver o quadro. Pouco depois ele faleceu. Claro que eu modernizei e romanciei alguns aspectos, mas isto faz parte, pois nosso "eu lírico" se insere no que escrevemos! E quem escreve, querendo ou não, se desnuda...
Queridos(as): A Rose comentou em um dos poemas que ando "sumida" e ela tem razão: esta semana fui submetida a uma cirurgia de emergência, mas já estou em casa. O Outro motivo de "sumir" é que estou na fase final de minha tese de doutorado em educação e todo o meu tempo é pouco neste final de tese. Perdoem-me porque não os estou visitando! Mas tudo chegará ao final e voltarei a ler todos os grande poetas que escrevem neste Recanto maravilhoso e que eu os tenho como amigos(as)!!
Bjs!
Com o carinho da Esperança!...