Não queira saber

Não queira saber:

como se fazem as salsichas,

como é a qualidade do controle de qualidade do leite,

como é a higiene da carne vendida nos supermercados,

a que custo são construídas certas reputações públicas,

como são feitas as notícias,

dos filtros por que ela passa antes de ser publicada,

o que as pessoas realmente pensam de você,

no que o (a) seu (sua) esposo (a) está pensando quando está quieto (a) demais,

no que os seus filhos adolescentes fazem à noite,

no que ainda há de sujeira embaixo do tapete político,

o que realmente move o mundo do futebol,

a verdadeira verdade sobre as coisas.

Não queira saber!

Isso o fará sofrer.

Mas,

então,

como viver?

Na mentira?

A verdade faz sofrer?

Que fazer, Lênin?

Construir uma sociedade de mentira,

um monstro hediondo de boas intenções?

Ser ou não ser, Shakespeare?

Aceitar?

Insurgir?

Pôr fim?

Tantas perguntas, Brecht?

A resposta é nossa!

Habermas, achas que esse mundo quer a validade argumentativa?

Esse mundo quer aparências!

As pessoas não querem sofrer.

A verdade dói.

Mentir é o melhor remédio!

É?

Não queira saber!

Mas como realmente viver,

sem saber?

Brecht tem razão!

Não espere a resposta dos outros.

(Enquanto isso Maquiavel, na estante, fica rindo satisfeito a dizer:

- Viu, eu tinha razão.

- Chega Maquiavel, foi a última vez. Vou te vender para um sebo.)