POETANDO 3
São oito horas
Sinto que falta algo
No tempo humano
Na vida humana
Na lógica humana
Foi-se o leiteiro
Foi-se a velha padaria
O Rio mudou seu curso
São oito horas
Sinto que falta algo
O último riso do palhaço
O último choro da criança
A última bênção da mãe
À minha frente, um frenesi maquinal
Homens, mulheres e carros correm
Se apressam cumprimentando ventos
São oito horas
Sinto que falta algo
Distante, ouço a cantilena ilusória:
“sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor”
Os pássaros num pé de jambo estão mudos
A praça, há pouco movimentada, jaz sem vida
São oito horas
Sinto que falta algo