“Oceano”
(Luiz Henrique)

Queria ter o movimento dos oceanos
Estar a um só tempo em todos os lugares
Tendo como fiel companheira há anos
A Lua , que enamorada, lhe lança olhares

Sábio e flexível ao longo do tempo
Hábil, na hora certa sabe bem o que fazer
Suas marés são o seu temperamento
Agredido pelo homem a não mais se conter
Raramente usa o exército do vento
Não o provoquem! Lhe basta o braço erguer

Tem aceitado - diria até pacientemente
Todo tipo de sujeira, agressão e maldade
Vidro, plástico, madeira e óleo, freqüentemente
Esgoto sem tratamento de tudo que é cidade
Em contrapartida, sua compreensão e bondade
Nos dá o peixe e o sal da vida, mormente
Além de propiciar uma segura navegabilidade

Mais sofisticado ainda é o que ocorre ultimamente
Se não fosse uma triste verdade, o inusitado seria cômico
Faz-se no mar processamento de urânio - um lixo atômico

Ironia do destino ou do homem ardil?
Nos permite arrancar de suas entranhas
O estratégico petróleo, em dólar o barril
E o descaso e ganância em suas artimanhas
Devolvem a quem para essa riqueza contribuiu
Combustíveis poluentes em proporções tamanhas

Em sua ambição sem medida
O homem lhe furta de tudo, até território
Inopinadamente, em postura atrevida
Sem pedir licença, sem escritura no cartório
Basta jogar mais sujeira em forma de aterro
Unilateralmente declarar àquele mar o enterro
E ali constrói comodidades, comércio e residência
Renegando seus domínios, sua vida e existência

Por tanta provocação é que às vezes a natureza revoltada cobra
Tempestades, maremotos, ciclones, são também de Deus - obra





  • poesia com registro de autoria
  • Foto: "esse mar é meu"  Fotógrafo: Luiz Henrique