Mas não o esquece...
por fim
esquecia de não tempestadear copos d'água
de não gastar suas energias em coisas passáveis e passadas
de não fornecer poesia
de não poupar nem mesmo o tempo...
esquecia de esquecer aquele
de ser poeta
de não prender-se
de ser discreta
esquecia que não deveria tanto amá-lo
que não o teria mais aconchegado
esquecia até de não falar de amor
mal percebia e já estava perdida
absorta, absorvida
em todos os suspiros
em sua egocêntrica falta de juízo
em tudo o que há de indizivelmente acolhedor
esquecia, pois, esquecer, pecado não era nem seria
e pecado por pecado
alguém sempre há de cometer
de tanto esquecimento
esqueceu de lembrar de si mesma
tudo o que era intrínseco tornou-se adormecido
há tanto...
ainda não despertou