VIDAS QUE NÃO SÃO
Há vidas que não são, meros retalhos rasgados
como fluidas de ventres jamais abençoados
O vento as leva em forma de poeira, desaparecem,
como que translúcidas, folhas mortas que nascem
Embrião seco, pálpebra deveras enrugada,
folha de um outono cinzento, linha apagada
Recolhem-se à insignificância sabendo-se ninguém
temem levantar os olhos, esperam, mas a paz não vem
São traços que não se vêem, reflexos da impotência
apenas e tão-só fragmentos vãos da indiferença
Porque vidas assim sofrem o forte látego do desprezo
nunca são notadas, marulham, bola murcha, sem peso
Chegam à existência como a brisa vem, calados,
e desaparecem sem deixar rastro, sós, magoados