Primeira Parte
Eu fico assim, a deriva
Enquanto a minha hora não chega
Espalho pelo chão minhas lembranças
Os sorrizos que não dei imobilizam minha face
Meus olhos ainda ardem de lágrimas há muito derramadas
É fácil abandonar as tristezas passadas
Difícil é esquecer a esperança que se perdeu
A oportunidade que não veio
O sonho que vem segurando a tua mão desde a porta da escola primária
Não pesco ilusões
Eu as crio e amamento
Por isso o chão sob meus pés é tão frágil
Caminho na areia movediça de minha própria covardia
E agora sinto que volto
Como quem encontra o acorde perfeito para uma canção que não pode mais ser tocada
É difícil construir seu próprio quebra-cabeças quando se depende tão desesperadamente das peças alheias
Não posso forçar os encaixes
Apenas sigo
E sustento os olhares que apontam minhas falsas verdades
Sou carta marcada
O baralho não está em minhas mãos
Jamais me coube ditar as regras do jogo.