PERDÃO MAMÃE
Perdão Mamãe
Assim mamãe me dizia: Levanta-te dessa laje fria, vai-te atacar a bronquite. Ela sabia o que fazia com a sua sabedoria. Coitada, sofria do coração e com a minha inocente ingratidão. Era uma tarde fria e ela segurava sua emoção. Essa é a imagem que confrange o meu maculado coração. Às vezes com o terço, passava-me o seu sermão. E, eu na vadiagem continuava naquela friagem produzida ali pelo chão. Quanta nostalgia, quanta solidão. Faz-me falta àquela imagem qual me dava coragem. A ela peço perdão. Com mais de um terço de vida a ela devida bem longe daquele berço, ainda ouço sua voz querida, vendo-a com o terço em sua mão sofrida. Levanta-te do chão, agora não há mais jeito, porém, com essa santa visão qual me estraçalha o peito, ainda assim, me é o melhor remédio, livrando-me da sofreguidão. Mas às vezes não penso direito, são atrozes lembranças que acalentam as minhas dores como vapores extraído de uma só fusão, confesso me causam confusão. São torturantes estertores da humana natureza com a sua imperfeição, beleza e muitos outros amores. Sem hipocrisia, sou a natureza fria, portanto, com o dedo em riste, e, sem ficar triste, reconheço essa ilusão. Demorei a entender o seu recado, sem remorso e sem pecado, pois, compreendi ser ignorância de infância. A me torturar a cabeça, embora, agora obedeça, porém, é tarde, e a tarde ficou mais fria e espessa, meus cabelos embranqueceram pela geada de suas benignas palavras. Obrigado mamãe. Pegava-me pacientemente pela mão, enquanto, eu insistia não sei por que contrariá-la, na minha ignóbil obstinação. Hoje sou avô babão, então posso me perdoar, por um monte de razão. Até por levar aquele sabão. Muitos foram os dias felizes junto àquela santa, porém, a vida e a morte vêm nos cortar a sorte com seu alfanje ou podão, ainda quando criança, ou enquanto o tempo se avança. Era uma tarde fria e minha mãe se despedia em enorme languidez, partindo-se de vez. Mas o meu egoísmo não aceitava com certo cepticismo o ganho de minha mãe, era a minha insensatez. Já que a morte não existe diante da palidez, e tudo são vida e eternidade. Portanto, todas as despedidas, por mais doídas, devem ser acolhidas com sabedoria, alegria e bondade. Na verdade não choramos pelos nossos mortos e sim por nós mesmos, já que quem parte não nos pertence, e achamos seja nosso lacaio, mesmo sendo nossa querida mãe, o nosso melhor aio.
Gostemos ou não, o desvencilhamento se faz extremamente necessário, até de nós mesmos para nos encontrarmos com a paz. E aqui fala mais alto a sabedoria do autoperdão.
É muito importante atentarmos ao nosso peseudoamor, ele pode se chamar “egoísmo”.
jbcampos