Imagem: Doze Girassóis - Van Gogh
Música: Sonata ao Luar - Beethovem
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Flor da vida
Na primavera da existência, um menino sonhador sonhou que a vida era uma flor.
Com cálice dourado, o ouro sagrado das mãos do trabalhador.
Com pétalas vermelhas escarlate como o sangue que cora a vida.
Sonhou com um estame prateado, um falo dos deuses a aspergir o pólen Divino da vida que nunca tem fim.
Com o seu carpelo rosáceo, primícias do fruto do amor.
No verão, o menino cresceu, a flor morreu para que o fruto nascesse.
Nesse instante, para ele o fruto era a vida que se transformava,
Com casca grossa para se proteger da aspereza do tempo.
Ou era lisa, ou aveludada e poética para alimentar os sonhos.
Seu endocarpo carnoso, doce e macio como um maná dos céus
Era devorado ou apodrecia para que as sementes surgissem
No outono tardio, sem flor, sem endocarpo, só a semente restou,
Dependurada ou caída de uma árvore de galhos rugosos e desfolhada.
Apesar de decadente a árvore senil exibe com galhardia a semente como troféu.
A semente, primeiro sacia a fome, o que sobra repousa para depois germinar.
A árvore, já sem função, dá os últimos suspiros com seus galhos desnudos elevados ao céu.
O vento frio e carrancudo uiva levando para longe o sopro da vida,
Deixando, apenas, dois belos sentimentos: a saudade e o amor.
No inverno frio da existência, num celeiro escondido, a semente repousa adormecida.
No escuro e no silencio, ela esconde a energia da vida.
Para que em outra primavera, um novo menino possa sonhar com a vida em forma de flor...