Dorido
O sapato que aperta
E tenta cortar a pele, dói...
Cada passo dado,
As vértebras esmagadas,
Também doem.
O caminho é dolorido.
O odor fétido do córrego,
Imenso esgoto a céu aberto,dói.
O córrego: cadáver do rio que um dia viveu!
As tantas subidas que os olhos avistam,
Já doem...
O Sol, tímido, arde na pele e dói.
As sacolas pesadas,
Com o pouco do muito
Que pretendia levar...
Dói.
Chegar em casa dói:
Mas dói mais quando é preciso sair.
Propenso...
Compadecido...
Os bolsos vazios,
A cabeça cheia,
As contas de monte,
A fé perdida,
A consciência arrependida,
A esperança,
A espera no horizonte...
Tudo isso também dói.
Ainda se ressente a dor sentida...
Antecipa a que talvez sentirá...
Torna bem maior a que sente...
Nascer dói... Assim como morrer...
Viver dói... Dói demais.
Tantas batalhas diárias...
Vencer o mundo...
Vencer a guerra...
Vencer a si mesmo.
Brigar com o tempo...
Brigar com o próximo...
Brigar pela vaga...
Brigar pelo passado que passou...
Brigar pelo futuro para que venha...
Brigar pelo hoje para que se mantenha...
Tanto...
Intensamente...
Demasiadamente...
Cansar,
Revigorar e
Recomeçar...
Tudo isso vai machucando...
Abrindo e fechando feridas...
Que sempre doem.
Mas o que dói muito mais,
É que embora tanto...
É nada...
É a dúvida...
É a certeza...
De que morreremos...
E isso dói!
São Paulo, 17 de Julho de 2009.