“Bisturí”
(Luiz Henrique)
Nunca a humanidade buscou tanto um padrão
De um corpo dito “perfeito”, como agora se vê
Me preocupa cedermos a essa estúpida pressão
Por conta dos anúncios, das revistas e da TV
Corpo perfeito é dádiva, uma benção de Deus
São poucos privilegiados que já nascem assim
Há tantos outros atrativos como os meus e os teus
Espero que não repare certos detalhes em mim
Aprecio a plástica - há mulheres de rara beleza
Cuja imagem encanta, emociona, desperta paixão
Mulher sem vaidade - é matéria bruta envolta em tristeza
Mas o que me incomoda e revolta é essa supervalorização
Se essa campanha prosseguir e essa idéia sedimentar
Os feios, os mais gordinhos e os menos aquinhoados
Franzinos, carecas, baixinhos, foras de forma ou linear
Nem tentar ! A uma vida infeliz estarão predestinados
Há muita coisa boa, de valor e qualidade no ser humano
Que pode e deve ser permanentemente explorada
Buscar no outro apenas beleza é amor leigo e profano
O tempo é implacável: reduz a beleza a pouco ou quase nada
Sou a favor do cuidado, mas vaidade tem medida
Se passar muito da conta termina em futilidade
Há também muita beleza e sabedoria minha querida
Nos carinhos e toques experientes da maturidade
Tem pessoas por aí, que de tão esticadas no bisturí
Perderam do rosto a expressão: nem se entristece e nem sorri...
- poesia com registro de autoria
- imagem copiada do google (titularidade desconhecida)