MOVIMENTO BRUTO

A cinética dos pratos manifesta-se

Por meio de uma energia externa,

Aparentemente, mantida incógnita

Pelo grande poeta da inépcia.

Observem como eles, os pratos,

Rebentos do reino do opaco,

Rodopiam impulsionados

Pelo inefável viço criptográfico.

Como rodopiam tais entes concretos:

É conforme se movessem

Empedernidos ao medo e aos dédalos do sombrio ego.

Ah, a impressão que me dá

É de que eles começam

Tal como se fossem

Bólides, raios, guepardos

E, ao voejar súbito de uma inesperada lufada-bálsamo,

Parassem paulatinamente:

Redendo-se, gradativamente,

Aos enlevos emanados

Do universo do portal do esgotável.

Ah,

Ao me pegar

Contemplando o desenrolar

Do processo do movimento,

Vejo que parecem ser guiados

Pela perpetuidade qual irrompe deste extático momento.

Contudo, eu denoto

Que a fugacidade soçobra o evo,

Contido na inércia do movimento:

Aí, o ritmo do rodopio

Cada vez mais arrefece

Até os levarem plenamente

Ao estado de estafa

Para os transformar

No mais suculento alimento

Que sacia a força estática.

Afinal,

Um tenaz pensar

Assola o cérebro

E molesta a língua:

Quem neles o movimento fomenta, hein?

Ah, amigos, qual mistério não há,

Porque os pratos são o objeto do desejo

Que obriga os dedos a movimentar

Os dois exemplares da matéria bruta

Até a lassidão plenamente taciturna reinar.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA