UM CORPO DESLOCANDO
Eu vou andar de bicicleta
Neste trajeto trejeito de tudo de ida e de volta,
Nestas máquinas que não se encenam um adeus.
Vou voltar pela ciclovia,
E como já fui observado!
Neste colapso negro sob rodas,
Como se os meus pés suportassem o sol
Eu não vou reluzir como ouro nem me fazer de combustível,
Vou pedalar horas a fio sem pestanejar.
A garagem está vazia, nela posso me confortar na ida,
Como se minha chegada dependesse da pressa que todos têm,
Mas o meu hangar ta lotado, os pássaros migram contentes.
Os gaviões com rasantes a vomitar a presa indigesta,
Sem que o formigueiro tire férias para tristeza do tamanduá,
Vou conseguir congestionar a avenida deslocando sob duas rodas.
As filas enormes continuarão
Como seu os meus dedões fossem de mal de todo o resto,
E na palavra união tomarei a descida com apreço.
O freio é mecânico como é a única forma de parar no meio da rua,
Tenderei ser o ciclista alvo entre todas as pessoas robóticas,
O fim ainda estar por vim, como todas as parafernálias, estraga na hora incerta.
E no vazio do desejo de continuar, a ladeira me engoliu buraco abaixo
Meus arranhões são menores que a atitude e volto a caminhar como um potro novo,
O destino pode me esperar sorrindo, o mundo da uma volta completa diante dos meus olhos.
Vou depurar pra ser reconstituído entre uma descoberta e outra,
Os meus corcéis são de prata e com pelos posso montar um dorso que vai adiante
Os céus estão tomados de tentativas que levam a sobrevivência.
Eu vou voar para o infinito, mas não tenho medo da condução,
Sem pernas não vou a lugar algum,
Vou fingir que posso ser o indivíduo ao lado,
Não vou poder me ver como o semelhante,
Os pobres estão enfileirados em linha reta,
E os nobres têm carros que voam e cospem fogo.
Eu parei de ouvir barulho do motor,
Durmo com pensamentos voltados para o mar,
Ando de carruagem pela madrugada e velejo sempre em prol do horizonte.