Algum dia no diário
Se fizesse um diário poderia montar uma história
Com meio, fim e começo
Mas teria sentido demais
Afinal de contas nem setenta por cento me conheço
Não tenho pretensão de deixar tudo bem contado
Com a ordem bem feita das letras a demonstrar um jeito de tudo ser
Pra mim seria ilusão, egoísmo
Pois nem sei onde tudo começou e nem pretendo arquitetar o fim
A vida mostra a sua intensidade feito a maré
Às vezes com água limpa e brilhante
Outras com um marrom flagrante
Demonstrando que a ressaca levantou a sujeira pro mar
Apagando qualquer coisa bem desenhada
No amontoado de grãos de areia na praia
Quando estou munido de fé
Pergunto-me como posso usá-la
Tento entendê-la, manejá-la
Mas a destreza nunca me foi forte
E a tristeza me pega sem sorte e me invade sem aviso
Serenamente
Tradução: melancolia
Talvez seja essa a alegria do poeta
Porém isso não sou ainda
Mas talvez algum dia tenha um diário
Pra tentar explicar alguma situação da minha vida
Num dia qualquer do meu calendário