Meu
Meu bar é o “BH”, em sampa!
Minha rua é “Augusta” e a pura indisciplina das tribos
Meu som é o violão que ainda nem sei tocar
“...por ele fui tocado, desde o primeiro encontro.”
Meu pão é francês
Meu ganha-pão é inglês
Meu consumo é nada
Meu shopping tem mais graça
Meu pé tem chulé
Minha unha, da mão esquerda, ignoro à navalha
Minha unha, da mão direita, é um adorno pendurado na ponta dos dedos.
O dedos,
Descansam, passeiam vadios e intolerantes, desafinados e brincalhões
Mau educados e safados entre primas e bordões
Meu carro, não tenho
O que tenho está em mim
E nem carro é
Meu caminhão, também não tenho
Mas o que tenho, está nele. Tudo!
Minha estrada, tenho
Segura, confortável e não
Errada, cansativa, longa
Correta, pouco percorrida, minha estrada
Meus filhos, tenho
Agora não mais
O mundo os tem no agora
E eu tenho o mundo, o tempo todo
Tenho meus filhos então a toda hora
Meu partido eu tenho
Minha escolha eu fiz
E assim aprendi
Na luta é preciso lutar
Minha música, eu tenho
Tenho em mim, os acordes por onde passeia Vivaldi.
Por isso amo todas as estações
Tenho em mim, Sebastian Bach com todas as fugas que necessito. Me curam do veneno da loucura
Tenho em mim Villa Lobos, Bachiana na voz de Bydu.
Blues com poesia e amores bobos
Maracatu com pé no chão
Fado acalentado em Lusitano verão
Rock and Rool pra lembrar quem sou
Forró arretado pra não esquecer nossa terra
E toda música de protesto para quem contra o mau berra!
Meu amor.
Não tenho
Não tive
Não fui
Nem voltei
Não amei
Não me deixei
Não me contive
Não tenho amor
O amor não me tem
E a quem a solidão convém?
Minha alegria, tenho
Meu rin dói
Meu corpo não atrai
Minha face não faz sentir saudade
Minha alegria, tenho
Pois tenho o tempo
Pois tenho as letras
Pois tenho as palavras
Pois tenho, admirados, olhos dos que me lêem
Pois tenho, obtusas, bocas que me odeiam
Pois tenho, ilariantes, dentes que me sorriem
Pois tenho, em algum lugar do “meu” um bem que me queira.