Palavras
Estou cheia de palavras.
Elas transbordam por todo o meu corpo.
Invadem meu estômago durante o dia, e se espremem no meu cérebro durante a noite.
São palavras inquietas, enérgicas. Se fudem todo o tempo, criam idéias, modificam conceitos e se multiplicam.
Buscam lugares ainda não habitados para se alojar.
Um pequeno espaço entre as vértebras, um dedo esquecido, uma cavidade perdida entre minhas artérias.
Vão preenchendo todo o espaço até me sufocar.
Até entupir minha garganta e me fazer vomitar.
E então eu as derramo todas, sem nexo, sem lógica e sem intenção.
Elas saem em línguas diversas, todas misturadas e amontoadas, sem contexto, sem motivação.
São despejadas em cima de um qualquer que esteja em frente a mim naquele instante.
Elas são simplesmente guspidas. Jogadas para fora em busca de alivio.
Deixando de novo espaço pro ar nos meus pulmões.
Mas basta uma frase pensada e não dita, basta um opinião não expressada e lá estão elas novamente. Se procriando no meu ventre.
Me preenchendo, me sufocando.
A espera de uma nova oportunidade pra se libertar.