SOU MEU DESCONHECIDO
Sou um homem que tem mais dinheiro
do que os que passam fome
O que faz de mim, de algum modo, um desonesto.
Minha alegria também vem
De minha mais profunda tristeza.
Tenho saudade do futuro.
Saudade do que poderia ter sido e não foi
Quero ser porco e galinha,
E depois matar-lhes e beber-lhes o sangue.
Minha necessidade de baixeza eu mal controlo
Vou ter tanta saudade de mim quando eu morrer.
Vou continuar a falar de mim que sou meu desconhecido,
e ao escrever me surpreendo um pouco
pois descobri que tenho um destino.
Quem já se perguntou: Sou um monstro
ou isto é ser uma pessoa?
Vê-se perfeitamente que estou vivo
Mas quem sabe se não estou precisando morrer?
Eu, que simbolicamente morro várias vezes
Só pra experimentar a ressurreição
Eu estive na terra dos mortos
E depois do terror tão negro, ressurgi em perdão.
Sou inocente! Não me consumam!
Não sou vendável! Ai de mim, todo na perdição.
Que os mortos me ajudem
A suportar o quase insuportável,
Já que de nada me valem os vivos.
O melhor é o seguinte: não morrer,
Pois morrer é insuficiente, não me completa,
Eu que tanto preciso.
Por enquanto quero andar nu ou em farrapos,
Quero experimentar pelo menos uma vez
a falta de gosto que dizem ter a hóstia.
Eu que quero sentir o sopro do meu além.
Para ser mais do que eu, pois tão pouco sou.