QUASE ETERNAMENTE INSONE

QUASE ETERNAMENTE INSONE

Na órbita das malogradas tentativas,

Tolho e acahapo recorrentemente

O leniente soro da noite

Fosforescentemente entorpecente,

Embora ele sempre a contenda vença:

Por mais compenetrado que eu esteja.

Forço a minha corpulenta mente

A ser a passageira que cabe

No batel dos pensamentos

Para navegar

---- demoradamente ----

Pelo mar da divagação prenhe:

Mosaical paisagm afluente,

Porosa e suntuosa gravidade!

Então passeio por lugares

Inéditos ou já visitados:

Deparo-me com a face

Do assombro, do êxtase,

Do medo, da miragem, da catarse,

Do corpo exangue, da voragem,

Do mutismo, da alegria,

Do tempo, da soturnidade,

Da fúnebre poesia, do enfado

De ser o estático e unitário bólide de ego insuflado.

Emanto o meu vérvico espírito

Com o ardente, ígneo

Desejo do naufrágio.

Sonho que retroajo:

A substância do refluxo,

Gravitando o universo onírico

Faz incursões no meu

Córtex sáfaro, escalavrado, estéril estio!

De repente,

Eu me vejo ser embalado

Pela doce cantiga do ócio,

Mas, na verdade,

A verve a armadura

Da revelia veste e absorve:

Ela, assim,

Progressivamente

Se transforma

No indomável demônio da Tasmânia.

Todavia,

Quase no átrio da plenitude das cinzas,

A verve desnuda-se e suas potentes antenas

Desliga. Coloca-me em profundo estado

De animação suspensa: o diário hiato da vida-presença!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

JESSÉ BARBOSA
Enviado por JESSÉ BARBOSA em 03/06/2009
Reeditado em 03/06/2009
Código do texto: T1629489
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