BAGAGEM, CREPÚSCULO E O DESCONHECIDO

Tenho cãs nos olhos:

A noção de fugacidade da vida

Arrebata-me pouco depois que saio

Do aminiótico aquário no qual, por meses, residira.

Guardo, dentro das narinas,

O eflúvio da fumaça assassina:

Meu olhar é tragado

Pela viscosa pemeabilidade

Que floresce das vielas

Onde mora o desdém á prosperidade dos desvalidos Girassóis:

Então, como não conseguissem germinar

Tal rebentos da via Láctea da igualitária ascensão,

Encontram, nos afagos

Que vicejam da moderna

Prole da pólvora,

A senda para segurarem o pólen do poder nas mãos.

Entretanto, este curto caminho

É insidioso, visceralmente ferino:

O êxtase que ele proporciona

Cobra o preço do prematuro e imorredouro abismo.

Ah, a sofreguidão e o afinco,

Com os quais se entregam estes artífices famintos,

Alimentam a fome dos dantescos barões da ignescência

Por novos edens da sangrenta opulência!

Trago lágrimas nos olhos:

Penso no quão dardejaria

A lactente constelação de estrelas

Se houvesse escapado da gula do desconhecido que cria a supernova egoísta.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

JESSÉ BARBOSA
Enviado por JESSÉ BARBOSA em 02/06/2009
Reeditado em 03/06/2010
Código do texto: T1627840
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