E os sonhos amanheceram lúdicos, não se viu tristeza na janela. Na angustia ouviram-se pássaros na platéia e não foram armas,mas letras, e
muito menos fogo das armas, mas versos e acalantos.Deu-se um instante de euforia.E o sonhador viveu retrato, durante aquela noite, um imaginário sem limites porque foi louco para tentar.Sonhou o amor da sua vida, uma
miragem de mulher que sempre esteve ali, bem perto de se tocar, tão bela quanto poderia ser, dos olhos a alma, se viu dono e escravo, eterno em tudo, onde nada ou quase nada se perdeu. E os anos não foram contados, mas
estações foram sentidas,invernos, verões, outonos e primaveras, e
cada uma como deveria ser. Quentes quando do frio, úmidas quando
da sede, frescas quando da dor,secas quando das lágrimas. Das
estações surgiram mais vidas, todas desse amor indescritível, desse encantamento de versos repartidos. Foram crianças arrancadas do
peito, crianças de se amar nos erros por gratidão, do perdão as brigas
sem sentido, do aceitar partir sem saber porquê. De um sonho, se viu
cansado, durante toda uma vida em um só segundo . E ossonhos
amanheceram lágrimas, porque chorar foi esperança. E o sonhador
escreveu memórias, tão belas quanto sinceras, singelas mas tesouro.
Memórias sem saudades, lembranças sem histórias, porque tudo estava presente. E os sonhos amanheceram luz, e não foi somente o sol que
se fez presente, mas a lua, os mares, as flores e cores, um horizonte
cercando o rumo. E o sonhador ouviu canção, do próprio ar que
coabita, da própria terra que germina o mundo. E pode dançar,cantar
o que escondia no coração, o medo de ser apenas homem. Tudo isso
apenas dos versos que ousou criar. Durante um tempo pensou ser
sonho, porque nada se faz eterno na existência que versa a noite.
Pois que ao gritar essa verdade, não ouviu silêncio que a aceitasse,
nem mesmo apupo de revolta. E na manhã que se viu desperto,
sozinho estava para o dia. Porque só, é apenas louco. É apenas nada.
Só, não passa apenas de um sonhador. E nada mudou na vida daquele
que um dia, durante toda uma noite, brincou, como criança, de acreditar
que nada é mais racional que sonhar. E assim se fez poeta.