Formigas Sobre Formigas

(Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, olha para os teus caminhos, e sê sábio. Provérbios de Salomão 6.6).

I

Enquanto nós reclamamos

As vis agruras da vida

Há um povinho que trabalha

Sem descanso em sua lida.

Faça chuva, faça sol,

Faça frio, faça calor

E sem nem ter arrebol

Ou descanso no labor.

De manhã já está de pé

Bem pronto pra sua luta

Levando peso nos ombros

Sem descanso na labuta.

II

Nós olhamos pro trabalho

Colocamos muito atalho,

Tanta pedra no caminho

E vivemos reclamando,

Enquanto o dia vai andando

Num contínuo torvelinho.

Desavença co’o patrão

Desavença no vagão

Que estava muito lotado,

Na feira ou no barracão

No mercado ou no escadão,

Co’o vizinho alienado.

Nosso salário que é pouco...

Reclamar? Estamos roucos!

Pra quem vamos recorrer?

Falta comida na mesa,

Mas a nossa realeza

Nunca vem nos socorrer...

III

Então bate aquela injúria

E vem aquela preguiça,

Pois o que mui nos atiça

É só a nefasta luxúria

E sem ver a luz purpúrea

Nós não somos nada equânimes

E sim estoldos pusilânimes

Entregues a hostil perjúria.

Porém com simplicidade

Trabalha aquele povinho

Fugindo de passarinho

Pra levantar a cidade;

Sem um tostão de verdade

Só pra comida do inverno

Fazer do inferno um céu terno

Com diafaneidade.

IV

Então olhe bem pra baixo

E abaixe a sua cerviz

Para ver um trio negro,

Ouvir o que ele nos diz:

Seu povo é muito arrogante

Meu povo bom aprendiz

Seu povo diz ser amante,

Mas ama igual meretriz.

Seu povo é muito estressante

Tem tudo, mas é infeliz,

Enquanto o meu faz jus ante

Ao mais sublime Juiz.

19/06/08 21h

Cairo Pereira
Enviado por Cairo Pereira em 31/05/2009
Código do texto: T1625321
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