SOU MAIS UM ATOR

Apaixonei-me por fatos sem literatura,

Fatos são pedras duras

e agir está me interessando mais do que pensar,

De fatos não há como fugir,

Contra fatos não há versões.

Transgredir, porém, os meus próprios limites

Me fascinou de repente.

E foi quando pensei em escrever sobre a realidade,

Já que essa me ultrapassa.

Qualquer que seja o que quer dizer “realidade”.

Tenho que não fazer a barba durante dias

E adquirir olheiras escuras por dormir pouco,

Só cochilar de pura exaustão,

Sou um trabalhador manual.

Informações que penosamente me vêm

de mim para mim mesmo,

É trabalho de carpintaria..

A palavra tem que se parecer com a palavra.

Atingi-la é o meu primeiro dever para comigo.

Ou não sou um escritor?

Na verdade sou mais um ator porque,

Com apenas um modo de pontuar,

Faço malabarismos de entonação,

Obrigo o respirar alheio a me acompanhar o texto.