Penso logo existo
Penso logo existo
Penso,
se penso logo existo.
Poderia ser prosaico,
porém é aprimorado.
Ser ou não ser?
...eis a questão.
Quem sou eu?
...de onde vim?
Sou alguém,
mesmo sem quererem , que eu seja,
porém entre o que sou
e o que querem que eu seja,
há distância.
Um poço
onde deposito a todo momento
as minhas histórias,
pequenas ou grandes,
volúveis ou admiráveis.
Uma fossa
que depositam dejetos,
as suas satisfações,
grandes ou pequenas,
importantes ou inconscientes.
Sou simples,
na naturalidade existo.
Em meio à vida que registram,
que querem
que seja a minha
e a que existe de verdade,
há alienação.
Sou ninguém,
como querem que eu seja.
Pra onde vou?
Em meio a o que penso,
e a quase tudo o que busco
e o que os outros
queriam que eu desejasse,
há um véu.
Existências carentes
como querem que seja.
Histórias de ir e vir,
de ter que construir,
de comprar e vender,
de pagar pra viver,
realidade e assombração.
Sinto muito
nem menos nem mais que isto.
Sei que sou artista,
que independente da ascendência
ou descendentes
das cobranças
preciso criar.
Não sei preencher os quesitos deste estilo,
este mesmo que querem exigir de mim.
Escolho viver minha vida,
assim poderei de repente
até pagar as contas,
todas as que me cobram,
tantos interesses.
Eu pedi um pão
me ofereceram vinho e queijo.
Em minhas veias
corre o sangue azul da elite.
O sangue da criação
este que não é transmitido por genes
é apenas um dom.
Ainda trago no olhar o espanto
e o encanto
do meu primeiro encontro com as letras,
com a vida,
com o escrever e o criar.
Trago no sentido o olhar,
o ouvir, ou escutar?
O cheiro,
o tato,
o paladar.
Trago a acepção da essência,
da fantasia ou reflexão?
A melodia
a efígie,
a luz.
O céu enamorado da terra
o sol da lua
e o mar.
Neide Mendes