HÁ O DIREITO AO GRITO

Experimentarei, contra os meus hábitos,

Uma história com começo, meio e “gran finale”

Seguido de silêncio e chuva caindo.

Só não inicio pelo fim que justificaria o começo

Como a morte parece dizer sobre a vida.

Porque há o direito ao grito,

Então eu grito.

Grito puro e sem pedir esmola.

Não vou enfeitar a palavra

Pois se eu tocar no pão

Esse pão se tornará em ouro

E não poderei mordê-lo, morrendo de fome.

Tento tirar ouro de carvão, adio a história

E brinco de bola sem bola

O que narrei será meloso?

Tem tendência, mas então agora mesmo

Seco e endureço tudo. E pelo menos o que escrevo

não pede favor a ninguém e não implora socorro:

Agüenta-se na sua chamada dor com uma dignidade de barão.

Pois tenho que tornar nítido

O que está quase apagado e mal vejo.

O que vou escrever já deve estar na certa

De algum modo escrito em mim.

Tenho é que me copiar.

E se for triste minha narrativa,

Depois na certa escreverei algo alegre

Embora alegre por quê?

Porque também sou um homem de hosanas

E um dia, quem sabe, cantarei loas que não as dificuldades.