O Ato de Escrever
 
Por que tenho tamanho impulso pelo ato de escrever?
Estranho é o surgimento deste como uma vontade prioritária,
Como se fosse uma necessidade a suprir algo essencial.
Difícil encontrar a causa original, porém constato o efeito,
E ele surge como uma sensação de realização íntima.
E talvez por isso exista um desejo em compartilhar,
Como que dono de algo precioso,
que não tem graça na solidão.

Por outro lado, existe um utilitário comodismo,
Isto porque, por certa timidez natural
ou dificuldade em me expressar,

Faz-se a escrita o meio pelo qual realizo a comunicação.
Uma espécie de boa vingança contra minhas frustrações,
Sendo a principal esta sensação de estar acuado,
De não conseguir me comunicar
ou ser aceito pelo mundo externo.

Um refúgio às ardentes chamas
dos meus pensamentos e emoções.

Uma espécie de bênção divina
que refrigera minha alma ardente.

Eis talvez a causa,
a inquietação de minha alma
em constante ebulição,

Que faz com que, mesmo
quando o corpo está em aparente descanso,

A mente não tenha um segundo de sossego,
numa inquietação

Que às vezes parece ansiedade ao pensar
que haverá falta de tempo.

Que tempo é este?
Nisto vivo a conflitar-me,
entre efemeridade e eternidade.

Já me supus meio que insano,
mas o passar da vida provou minha sensatez.

Sei que amo o silêncio pacífico,
assim como me atrai o movimento inquieto.

A harmonia me acalma e faz pacífico,
o conflito me arroja em colérica fúria.

E para tudo isto o meu profundo autocontrole,
a minha vontade obstinada,

A tenacidade de minha paciência criada,
e atrás de tudo o desejo de vencer.

É isto que me coloca em busca,
sonho como uma estranha liberdade.

É como se houvesse sentido a sua presença
e depois a perdido.

A busco com toda minha força,
com toda minha fraqueza,

Vezes pensando-me onipotente,
vezes completamente vulnerável,

Vendo-me real
em meio a supostas ilusões que parecem verdadeiras.

Sou resignação,
vezes passiva conformação,
porém sempre rebelião,

Inconformado com a sensação
de ser manipulado pelo destino,

Por vezes sendo levado a soluções melhores,
mas mesmo assim,

Com orgulho ferido por sentir
meu livre arbítrio subjugado a outra vontade.

Vezes rejeito o cotidiano,
mas sou obrigado a reconhecer sua eficiência,

Uma espécie de catalisador,
que quanto mais me fere, mais eu luto,

Mais eu quero buscar,
mais eu quero compreender,
e nisto está minha força.

Por vezes sereno,
outras atingindo a frieza
de quem domina os sentimentos,

Porém, sempre querendo o bem,
não o bem maniqueísta ou moralista,

Mas o bem verdadeiro da boa convivência,
apoiada na melhor verdade possível.

Difícil isto tudo,
já a luta provoca cansaço
e minha insistência a exaustão,

E então me pergunto: “ Por que vivo?” .
Amargo, por vezes, reconheço
como ato secundário de minha existência.

E embora esta frase possa ser simples
quando ordenada em letras,

Ela muito significa;
de alguma forma é como se fosse
uma sina a perseguir-me.

Que não se engane,
aqui não lamento,
apenas constato os dias de uma vida.

Reconheço duas vontades poderosas
em confronto de corpo e alma,

Percebo que o espírito na sua consciência
sobrepõe-se ao homem que sou.

E isto cria um certo incômodo,
é o homem que vive e não o espírito.

De forma que supondo a possibilidade
desta dualidade de ser.

O homem vive a restringir-se,
enquanto o espírito ainda assim fica frustrado.

Talvez esteja nisto o caminho
para as chamadas virtudes celestes,

Mas que não se engane, 
antes haverá uma luta infernal.

E esta só pacificará
quando a aceitação se der por consciência,

E não apenas por servidão
que apenas acalma o impulso a rebelião.

Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 18/04/2009
Código do texto: T1546669
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