DIGA-NOS POR QUÊ ?
DIGA-NOS POR QUÊ ?
Juliana S. Valis
Por que nem sempre se pode viver apenas da arte e da poesia ?
Porque a poesia alimenta a alma, mas não paga as contas
Nesse mundo cruel e materialista, onde a fria
Memória das máquinas mistura-se ao sistema sem pontas
Do consumismo desenfreado que apenas distancia
A grande maioria que sofre e a minoria, com malas prontas,
Rumo à efêmera fortuna que paga o luxo da inconstante euforia...
E diante de cada injustiça, você pergunta: por quê ?
Mas nada responde ou resolve o dilema de tudo !
A jornada humana é tão curta, de fato, e você
Também questiona o "porquê" desse grito tão mudo ?
Então, aflito, o enigma desce lentamente as escadas
Entre os níveis de respostas que só nos deixam confusos,
Entre a paz e o conflito, nos passos sós das calçadas,
Nos labirintos das ruas, entre mil parafusos,
Entre bilhões de palavras, pela vida, espalhadas,
Como emoções e versos, misteriosos, sós e obtusos...
Ah, céu, diga-nos o "porquê" de tanta estupidez !
Por que os dons das pessoas não são igualmente valorizados ?
Por que os bons indivíduos sofrem tanto com a insensatez,
Enquanto os "reis" da corrupção são até escoltados ?
E o pranto pergunta: por que não podemos viver de nosso dom ?
A poesia e a arte dos novos nem sempre pagam contas do mundo,
Mas trazem, no fundo, a sensação de fazer algo bom,
De fazer algo impagável, criativo e humanamente profundo,
Entre o silêncio da mente e a velocidade do som.