NOSSAS VIDAS

É incoerente o ocaso do mal ser a ida:

bandida, homicida, vencida, inseticida, ferida, dolorida, fratricida,

formicida, infanticida, pesticida, suicida,

é atravessar correndo, sem para os lados olhar,

o tráfego intenso da avenida,

parar na outra calçada e abraçar, socorrer e lamentar,

a quem tanto atenta contra a alegria da vida.

Evitando o olhar na cena pungente,

usamos ininterruptamente

o comodismo da escada de descida,

aberta neste mar de concreto, um buraco na terra ferida,

no escuro do túnel submerso, no entanto,

revela-se a realidade da vida,

o mesmo trem que parte imponente e veloz,

é o que volta manso e silente em seguida.