CRUCIFICAR-SE
Eu me crucifico,
assumo meus martírios cotidianos,
atormento-me com minhas angústias,
mortifico-me,
inflingindo-me penitências
por pequenas ou grandes falhas.
Perfeccionista ao extremo,
por vezes me esqueço que sou falível.
Vivo me consumindo se tenho um amor
e me atormento igualmente se não o tenho.
Sofro pela dor alheia,
choro vendo filme, cena de novela,
lendo um livro ou observando
a cruel realidade das ruas.
Ainda não perdi a capacidade
de me colocar no lugar do outro,
fazendo minhas suas dores.
O materialismo gritante
da sociedade moderna
me cerca, me rodeia,
mas não me atinge:
sou demasiadamente humana para resistir.
Solto a emoção desenfreada
na dor ou na alegria,
na calada da noite ou em pleno dia.
Sou pessoa, plena de identidade, de verdade.
E por ser assim, me mortifico,
me crucifico, diante das dores
sejam elas de quem forem.
Mas o meu fardo é leve.
É só um pacotinho diante da sua cruz, Senhor.
Sei que tens propósitos para mim e por isso creio
que, da mesma forma como eu me crucifico,
também um dia celebrarei a minha ressurreição.
Nascerei para uma nova vida
onde as virtudes prevalescerão.