DOIS LADOS, UM DOENTE

Os talheres de prata sobre a mesa

Entre os vinhos e finos cristais

O linho branco enfeita o jantar

Que alimenta os mais descansados.

O outro lado da parede esconde

O quarto sujo que o luar invade

No canto o cão dorme esfomeado

Como a vigiar um grande segredo.

Aroma de flores e som de violino

Recebe os sabores da boa cozinha

Olhares atentos e mãos preparadas

Degustam o medo que bem criam.

O latido fraco sugere o final da vida

Outro suspiro ao seu lado ressoa

Um homem tão cão quanto pessoa

Dividem a solidão indefinidamente.

Nos restos de jantar a lembrança

Uma mesa composta de vazios

Entre a vergonha da fome vizinha

A certeza de saber-se igual na morte.

Se no corpo carrega toda a beleza,

Composta pelo que de melhor se viu.

Vê-se que entre as duas naturezas,

É essa a doente que jamais serviu.

Jose Carlos Cavalcante
Enviado por Jose Carlos Cavalcante em 09/05/2006
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