NOTURNA


Eu não sofro de insônia,
porque insônia
absolutamente não me faz sofrer.
Eu sou da noite,
Eu amo a noite,
Eu vivo a noite.
Eu gosto do silêncio da noite,
porque ele me leva
para dentro de mim mesma.
E nesse interior eu me aprofundo,
garimpo meus ouros subterrâneos,
lapido meus diamantes,
e do fétido odor de ostras podres,
tiro minhas pérolas.
Brilho.
Encontro luz e paz
para criar.
Às vezes, solto meus bichos.
Grito, esperneio.
Outras vezes, sou só ternura.
Sentimentos se misturam
e eu faço rimar essa mistura,
de forma que,
antes que o sol se ponha,
antes que brilhe a aurora,
e antes que a noite vá-se embora
eu possa brindar o raiar do dia,
com mais uma poesia.